12.5.06

A Data


Durante todos os ponteiros que engolem o dia, pouco nos resta para viver um pouco por nós mesmos.
São tantas as datas, que agente esquece a importância de uma data que não seja nada, que não nos lembre nada, que não nos cobre como todas as outras do ano.
Que seja uma data no meio do nada, e que a televisão fique desligada, para que agente possa ouvir a nosso próprio pensamento. Ela tem que ser vazia e fria, pedindo para ser preenchida dos menores ruídos possíveis, e com tudo aquilo que sempre deixamos de fazer.
Essa data vai ter tudo que tem num fundo de armário, milhares de tralhas inúteis que de certa forma temos medo de jogar fora. Talvez elas só estejam guardadas para serem vistas no dia de esquecer que horas são, dia de aproveitar o sol se pondo e a brisa friazinha que arrepia. Dia de ler o livro favorito, e sentir soar cada vírgula dele como única e fundamental. Vai ter cheiro de amaciante e de praia, e nos lembrará como é boa a sensação de estar com a alma limpa.
Esse dia vai ser esquecido daqui a cinco minutos, quando o tempo voltar a engolir cada respiração nossa. Mas o sentimento dele vai nos acompanhar de tal forma, que a trajetória da nossa vida estará mudada. Feliz data nenhuma!