22.8.06

Quero ser grande


A primeira vez que eu saí à noite, tinha uns 15 anos. Foi a primeira vez que eu me senti gente grande. Ai minha mãe , que decidia onde eu ia, jogou um balde de água fria na história de eu mandar na minha vida.

Aos 17, minha 1ª viagem de formatura à Floripa. Estava com os meus amigos, todos grandes, sem pai nem mãe para mandar. Estávamos livres. Até a grana dos nossos pais acabar no meio da alegria, e ai ficamos pobres outra vez, presos denovo, só que no Hotel.

Teve outra vez ainda. Quando eu recebi meu primeiro salário. Quatrocentos reias. rsrsrsrsr....Juro que por um dia pensei que podia fazer muita coisa com essa "fortuna". A brincadeira acabou quando eu gastei todo o meu primeiro salário com roupas e sapatos na primeira semana, e acabei tendo que contar com a grana da minha mãe pra me bancar até o fim o mês.

Hoje, eu abro as poucas cartas que recebo , e me deparo com as contas da faculdade, as do cartão, as do Carro, e todas as outras milhares que dá até arrepio de lembrar.
Nessa hora eu queria minha mãe, para pagar minha mesada de 50 reis por mês, e que dava para tudo. Eu tinha mais dinheiro nessa época do que hoje em dia. Ia no cinema, comprava uma blusinha na C&A, tomava sorvete e ainda sobrava!...

Queria que o meu pai me prendesse em casa porque está frio. Hoje, eu tenho que trabalhar, mesmo que neve lá fora. Ele podia também me deixar na porta da faculdade todo dia de manhã. Podia me proibir de ter um cartão de crédito, e ai eu não me endividaria. Poderia até me deixar de castigo quando eu resolvesse sair o fim de semana inteiro o invés de ficar descansando um pouco em casa com a família.

É, a vida era mais fácil aos 16 anos.... Talvez por que ela não fosse minha naquela época. Era dos coitados papai e mamãe , que tinham que cuidar não só da vida deles, como também da vida da filhota "ovelha- negra- louca- alucinada" desde sempre...

Agora, sendo ovelha negra ou não, sou eu quem faço as minhas tozas, as minhas loucuras e as minha encrencas.

5.8.06

Os inícios e os fins

A mulher sentada na mesa ao lado da minha chorava.
Mais que chorava, ela sofria muito, chorava com todo o corpo, baixinho e discretamente. Ofuscava tudo sem perceber.

O homem ao lado dela, pelo jeito motivo do choro, consolava-a como uma estranha. Não a amava mais, com certeza. Ele era como alguém que dá esmolas para um mendigo.

Meu café esfriou vendo a cena. Ela socou meu estômago e doeu ver a dor dela.
Quem nunca chorou em público.É sempre mais melancólico do que chorar sozinho.

O fim acaba com qualquer um.
Me lembrei quantas vezes eu chorei antes, e quantas pessoas eu fiz chorar no fim. Sempre tem alguém que chora no fim.

O final de algo é começo de outro. Não se sabe começo nem fim do que, mas é sempre assim que parece funcionar. Ai agente enfatiza o que convém. Por exemplo “ Terminei meu namoro, estou acabada” .
Já tentei enxergar o fim como algo bonito, mas não deu. Eu choro em todos os fins de ciclo, bons ou ruins, não importa. São fins independente de qualquer coisa.

Já os inícios são mais simples. Eles são a chuva, depois que para e fica o silencio no ar.
Inicios são bonitos, mais coloridos que os fim constumam parecer. "Ela se salvou do acidente, está começando uma nova vida!".

Ai volto a observar a Mulher da mesa ao lado. Ela foi ao banheiro, enxugou as lágrimas e retocou o batom. Se despediu do estranho de longe, e saiu pisando forte e fazendo o barulho do salto alto no chão. Estava começando um ciclo para ela.